sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Alunos realizam reintegração de posse

Conforme últimas notícias, já são oito (hoje, dia 16/11, mais de 20) escolas ocupadas por alunos no estado de São Paulo. Estes alunos estão reivindicado o fim da reorganização (desorganização) que o governo está propondo para o ano que vem, e já que nunca ninguém os procurou para perguntar o que achavam, resolveram ocupar as escolas, fazendo, assim, a única coisa que realmente chamaria a atenção da sociedade para a arbitrariedade que estão cometendo contra eles.
Certo é que muitos olharão para estes alunos e dirão que são vândalos, que somente deveriam se importar se por acaso fosse faltar vagas ou coisa assim. Alguns mais radicais ainda dirão que deveriam apenas “estudar, o que muitos dos alunos envolvidos não fazem”, ainda que não os conheçam. Seja como for, só uma falta de sensibilidade gerará este tipo de comentário.
Estes alunos estão lutando pelo direito de permanecerem na escola que criaram laços, seja intelectuais, seja efetivo ou de amizade. Qualquer um destes motivos são justos. Nunca e em nenhum momento foram consultados para que sua opinião fosse ouvida; nem as suas e nem a de seus pais. A decisão de fechar 94 escolas em todo o estado e fazer com que outras centenas tenham sua rotina alterada foi tomada autoritariamente, de cima para baixo, com o pretexto tacanho de que seria para melhorar a qualidade de ensino. Só alguém com um alto grau de cegueira social e política para acreditar nessa desculpa esfarrapada, pois o que está implícito no discurso e explícito nas ações do atual governo é a “diminuição de gastos” com a educação. E isso não é de agora.
Em 2013, por exemplo, o mesmo governador, por meio da Secretaria Estadual da Educação, abriu concurso para a contratação de 59 mil professores em todo o Estado. Alguns mais cegos acreditaram que esta medida seria para alavancar de vez a educação em São Paulo. Contudo, esses 59 mil professores não seriam contratados como acréscimo no plantel, mas unicamente para cobrir o rombo de professores que as escolas públicas tinham.
Obviamente este concurso foi feito e, em 2014, por conta das eleições, foi usado como “prova” para o eleitorado de que o governador (candidato a reeleição) era um ser preocupado com a educação dos jovens. Ocorre que estamos já no final de 2015 e até agora não foram chamados todos os 59 mil professores. Pior que isso, ainda tentou por meio do decreto 64466 impedir que o Estado contratasse novos funcionários, ainda que estes fossem necessários e remanescentes de concursos ainda em período de vigência (incluindo professores).
Também é sabido entre professores e funcionários de escolas estaduais que desde o meio do ano passado o governo tem realizado cortes nas áreas mais básicas, deixando faltar, inclusive, produtos básicos de higiene nas escolas. Este mesmo governo que com a “reorganização” visa melhorar a Educação é o governo que mantém o sigilo das correções, provas e gabaritos do SARESP, divulgando apenas os resultados que, como é de se esperar, sempre apontam para o “ótimo desempenho das escolas paulistas”.
Este mesmo governador que agora manda a PM sitiar os alunos nas escolas ocupadas ainda este ano mandou a polícia contra os Professores que lutavam por melhores condições de trabalho e salariais. O que é pior: mandou a policia e negava a existência da greve que bateu o recorde e permaneceu por mais de 90 dias.
Não há como acreditar nessa balela de que a reorganização visa melhorar a Educação. Por mais que o senhor secretário diga em público que não há fechamento de escolas, mas sim uso destes espaços para outros fins, ainda que educacionais, estes prédios serão utilizados por entidades empresariais e comerciais visando formação de mão de obra ou serão passados às prefeituras. Seja como for, não ficará mais a cargo do Estado a manutenção do prédio nem dos funcionários, e corta-se o que o governo chama de gastos.
Por todos estes motivos, torna-se justa a tomada das escolas pelos alunos, pois somente assim suas vozes estão sendo ouvidas. Governador, Secretário da Educação, Dirigentes das DEs nem diretores de escola consultaram pais e alunos (principais interessados e tocados pela mudança) para ouvirem suas opiniões; em momento algum se levou em conta os transtornos que ocorreriam para os alunos que serão realocados; tampouco se pensou nos muitos professores que, fechadas suas sedes, terão que percorrer várias escolas para completar sua carga; enfim, não se pensou em nada mais do que dar um duro golpe na educação pública paulista, que, a título de melhoria, tem claros interesses de “diminuir gastos” e sucatear mais ainda o combalido sistema educacional público deste estado.
 Ironicamente o governador que nega a greve manda a polícia bater em professores; ironicamente o governador que não hesita em fechar escolas pede reintegração de posse de escolas cujos alunos estão ocupando. Senhor governador, o que o senhor chama de invasão e depredação de patrimônio público na verdade é justamente uma reintegração de posse que os alunos estão fazendo, tomando para si o que lhes pertence e que o senhor deles quer tirar; já o que o senhor quer chamar de reintegração de posse nada mais é do que depredação de patrimônio público e um crime contra a educação e contra estes jovens que resistem às tuas politicas tacanhas, autoritárias e truculentas. Em vez de policiais, por que o senhor não envia professores pra sitiarem as escolas?


Todo o apoio e respeito aos estudantes que bravamente ocupam e resistem aos desmandos do governo paulista!

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Quando eu estiver velho

Quando eu estiver bem velho, olharei para o meu passado e farei um balanço de minha caminhada. Certamente analisarei minhas ações com certa complacência, mas não deixarei de admitir os muitos erros que já cometi e que cometerei ao longo de minha vida.
É quase certo que sentirei um pesar pelos beijos que não dei, abraços curtos que poderiam ser longos, amores que recusei e amores frustrados que senti. Certamente ficarei chateado tendo de assumir que enquanto Professor poderia ter feito muito mais. Contudo, nesse dia certamente não terei que passar pela vergonha de ter de admitir que, quando jovem, tentei “melhorar” meu país batendo panelas dentro de casa ou que fui numa micareta vestido com a camisa da CBF (entidade inegavelmente corrupta) tirar fotos com policiais militares acreditando estar fazendo revolução e lutando contra a corrupção.
Não poderei dizer que estudei a resistência dos materiais, mas que participei da resistência daqueles que sobrevivem numa sociedade de exclusão, daquele que mesmo sem precisar lutam por direitos de outros que estão sendo espoliados, desrespeitados.
Direi que em parte de minha vida (espero que a maior parte), certo ou errado, junto com companheiros valiosos, fui às ruas lutar contra as injustiças sofridas pelos meus concidadãos, principalmente os que têm suas vozes abafadas ou caladas.

Vou, enfim, poder dizer que o dito popular não é tão verdadeiro assim, pois será justamente por algo que não fiz que me livrarei de sentir uma tremenda vergonha.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Escola "doutrinadora"

Numa discussão sobre o fechamento de escolas no estado de São Paulo houve quem dissesse que não se importava muito com tal fato, posto que seria melhor que isso ocorresse do que se instalasse escolas "doutrinadoras". 
Sendo assim, farei este pequeno ensaio para discutir tal assertiva de um dos arautos da sapiência, bastião da verdade.

A escola no Brasil (e no mundo), e em especial no Estado de SP, sempre foi e ainda é “doutrinadora” sim. Para atestarmos isso basta olharmos para sua história, desde aquilo que seria sua gênese: a catequese. A catequese visava e visa até hoje formar cristãos entre as crianças, ensinando-as desde cedo a sua doutrina. 
Mas beleza, vamos falar do profano, deixando o “sagrado” em paz, e voltar os olhos para fora do Brasil e longe de nossos tempos.
Após a Revolução Francesa, quando caiu o Antigo Regime, uma das primeiras ações pensadas pelos novos líderes foi a criação de escolas publicas onde se tivesse, entre outras coisas, o ensino de História. Com isso objetivava-se ensinar as crianças sobre os ideais iluministas e republicanos, garantindo o futuro do regime e a vitória da Revolução.
Situação parecida tivemos durante a ditadura militar no Brasil, quando o regime suprimiu do curriculum escolar matérias como História, Geografia, Sociologia e Filosofia, instituindo outras como Educação Moral e Cívica e as famosas OSPB (Ordem Social e Política Brasileira) e Estudos Sociais (onde se aprendia o hino e as datas "históricas), numa clara tentativa de impedir que determinados conhecimentos fossem transmitidos e que a ordem implantada a força não fosse contestada.
Seja pelo conteúdo proposto ou suprimido, seja por discussões feitas ou sumariamente impedidas de acontecer, sempre e em todos os tempos a educação ministrada atendia a propósitos muitas vezes inconfessáveis. Como diria Paulo Freire, “a educação é ideológica”.
Existe, entretanto, um grupo de pessoas que justamente por ter estudado nas escolas públicas paulistas afirma veementemente que partido A ou B está tentando doutrinar as crianças, como se a educação de hoje (ou de um passado recente) fosse isenta de ideologias, fosse um espaço neutro e as crianças de lá saíssem incólumes. Este tipo de ideia é prova cabal de que neste estado a educação é ideológica e atende a interesses tacanhos. As pessoas que sustentam essa posição equivocada são as mesmas que têm aversão aos livros, que defenestram Paulo Freire sem nunca sequer ter lido uma de suas obras, que desconhecem o processo histórico do próprio país, que não têm pensamento reflexivo (mas que são ótimas em decorar e repetir frases prontas), que não abstraem, e por isso mesmo não se dão conta de que sua condição é fruto justamente do projeto politico, cultural, econômico e social que estas escolas cumprem.
Sinto dizer, meus caros, mas vocês são prova de que a escola pública que o estado de São Paulo oferece é sim doutrinadora, e sua doutrina é a universalização da ignorância.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Pero sigo siendo el rey

Uma entrevista num canto obscuro do palácio dos deputados...

- Eduardo Cunha, por que você colocou em votação essa emenda aglutinativa de uma matéria rejeita ainda ontem?

- Por que ela não passou ontem, deerrr!

- Mas e se não tivesse sido aprovada essa emenda aglutinativa?

- A gente daria outra aglutiadinha e colocaria pra votar amanhã!

- Mas Eduardo, seria o mesmo texto rejeitado duas vezes. Isso não pode!

- Não seria não! Olhe bem! Tá vendo aquela vírgula lá no artigo 6º no projeto de ontem? Pois bem, ela não está mais no de hoje. É outro texto! E eu já tinha planos de mudar a palavra “todavia” por “entretanto” numa possível aglutinada para amanhã.

- E assim o texto seria outro, certo?

- Exatamente! E também porque era um pedido do deputado Heráclito Fortes, aquele com a boca mucha e com a voz do Sílvio Luiz que se absteve na primeira votação por não concordar com o texto. Ele disse que aquele “todavia” deixava o texto um tanto impreciso. Ainda bem que conseguimos explicar pra ele sem precisar alterar. Cansa ficar repetindo o mesmo texto... ops! quero dizer, alterando todo o teor da matéria para que possamos apresenta-la novamente e novamente e novamente...

- Mas ainda depende de aprovação em dois turnos no Senado. E se por acaso o Senado barrar, Eduardo Cunha?

- Os senadores que se atrevam! Eu prometi pra mim mesmo que isso seria aprovado.

- Mas não depende só do senhor para que isso ocorra, isso é uma democracia. Existem regras e regimentos a serem cumpridas. Não as conhece?

- Regras? Regimentos? Acho que rasguei uns livrinhos assim que estavam na sala do presidente da Câmara assim que fui eleito para reinar nessa casa. Seja como for, precisamos é de pulso firme, não de regras e regimentos.

- Ainda sim o senhor não tem poder sobre o senado. Como pode garantir que tal projeto seja aprovado naquela casa?

- Simples, se eles não aprovarem lá o projetinho que fiz votar aqui, criarei uma PEC que dissolve o Senado e se não for aprovado nesta casa em primeira votação, vou dando aglutinadas até que todos se convençam que eu, Eduardo Cunha, movo céus e terras, vírgulas e “todavias”, e não desisto até conseguir o que eu quero. Afinal, sou o rei cristão da Câmara eleito por deus para governar o povo.

- Mas Eduardo, isso não é uma monarq...

- Cale a boca, repórter chato! Ousa discordar de mim? Polícia, leve esse sujeito para as masmorras! Tenho de mandar aglutinar muitas coisas hoje e ainda tem culto. 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Não à inclusão carcerária

O dia de hoje nasceu com dois Sois: um resplandecente para os que lutam pelos direitos e pela dignidade humana; um turvo para os que querem incitar uma grande parte da população a acreditar num engodo.
A bancada da bala e da inclusão carcerária que queria a todo o custo reduzir a maioridade penal teve seus planos frustrados. Choraram, espernearam, gritaram e por vezes até onfenderam, pensando que assim conseguiriam empurrar goela abaixo essa matéria vil que seria mais um golpe contra a população das periferias, contra a juventude negra, contra a juventude pobre deste país.
Querem conservar e proteger a família brasileira, dizem eles. Mas que família? E quem são por eles considerados brasileiros? Ou nas periferias não há o que se considere família ou não são estas consideradas brasileiras, pois estes legisladores conservadores não as protegem nem defendem. Acaso defendem as famílias brasileiras quando invadem morros atirando primeiro e perguntando depois com sua polícia despreparada e até dolosa? E quando permitem que os governadores de seus próprios partidos cometam descalabros contra a Educação, estão defendendo as famílias? Ou serás que estariam defendendo as famílias brasileiras quando se esquecem que nas periferias não há o menor investimento em esporte, cultura e em lazer? A família brasileira é agredida muito antes da consumação de um crime, e vós, senhores conservadores, nada fazem para protegê-la. Querem agora puni-la ainda mais?
O deputado Ivan Valente foi muito feliz ao chamar a atenção destes deputados da inclusão carcerária dizendo que estes nunca votaram de forma séria os 10% do PIB para a Educação, que estes "defensores da família brasileira" preferem gastar 45% do orçamento para pagar juros de banqueiros (cuja maioria nem são brasileiros), mas que sempre se esquecem de pensar as políticas públicas que certamente teriam impacto maior na diminuição da violência do que a simples, vingativa e odienta punição.
Amanheceram hoje destilando veneno, dizendo que a maioria da população queria a redução. que essa maioria não foi respeitada. Essa maioria é a mesma que frequenta as escolas públicas que, por uma mera coincidência, são as escolas mais sucateadas. São dessas escolas sucateadas que saem tantos os criminosos quanto a maioria que cegamente defende tal medida. Querem tapar o Sol com a peneira com a falsa sensação de proteção criada pela "certeza da punição". A certeza da punição não restitui o que se perdeu nem impede que crimes ocorram. Continua o problema, mas tem-se a vingança. A bancada da inclusão carcerária quer apenas vingar, não sanar o problema impedindo que os delitos ocorram, e isso atende outros propósitos mais sórdidos ainda.
Se acham que o Estado está falhado, estejam ciente que vós sois parte principal deste Estado, meus caros conservadores legisladores. A falha do Estado é a vossa falha. Criar novas leis quando as já existentes não estão sendo devidamente cumpridas e vós que deveriam fiscalizar de perto o cumprimento destas leis não o fazem, materializa a mais pura tentativa de enganar a população carente com soluções que a marginalizam ainda mais, é querer mostrar serviço por meio de desserviço: isso é um erro, isso é um engodo.
E se vós, conservadores cristãos plantadores de engodos, ainda achais que a maioria tem sempre razão e que a vontade dela deve sempre ser respeitada, faço-vos lembrar que a maioria, detentora da razão, preferiu libertar Barrabás e condenar Jesus a morte. Penso que condenar é o que mais gostais de fazer.
Por fim, utilizo novamente a frase de Ivan Valente para resumir a questão: "Este Estado que não protege, que não acolhe, não pode punir!"

Viva a sensatez! Viva a juventude! Sim à Educação, à inclusão social! Não à redução e à inclusão carcerária!
Não passarão, senhores conservadores! Vosso latido é mais alto, mas nossa luta é justa e nossa gente mais aguerrida!

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Porque não muda nada...

O que mudaria na vida dos brasileiros se seguíssemos o exemplo estado-unidense e legalizássemos de vez o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Na verdade, aumentaria o desespero dos grupos neopentecostais que se posicionam contrários a esta medida, mas em suma não mudaria nada, a não ser para os próprios contraentes do matrimônio.
No artigo quinto da Constituição Federal está escrito que não se deve fazer qualquer tipo de distinção entre os indivíduos, seja ela de raça, gênero, convicção política ou religiosa, entre outras. Essa ideia oriunda do Iluminismo visava acabar com lógica dos deveres dos súditos, acabando, assim, com as diferenças sociais do antigo regime que pesavam em favor da nobreza em detrimento da maior parte da população, implantando a ideia dos direitos do cidadão. Após a Revolução Francesa e a implantação da República naquele país, acabou-se com as diferenças (pero no mucho) e todos foram elevados à condição de cidadãos.
Nessa lógica haveria apenas o Estado a organizar e mediar as divergências entre os inúmeros cidadãos. Sendo o casamento um contrato celebrado entre dois indivíduos, cabe ao Estado mediar essa parceria, dando pleno amparo legal aos dois contraentes do matrimônio sem que qualquer característica seja considerada empecilho a esta união.
O casamento gay em nada se diferencia do heterossexual, então? Não!
Se o Estado Democrático de Direito não enxerga distinção de gênero, raça ou qualquer outra possível, sobraria, em ambos os casos, apenas dois cidadãos contraindo o matrimônio.
Mas o pastor e o padre das igrejas terão de celebrar os casamentos entre os homossexuais? Também não!
Desde a implantação da República no Brasil, mais precisamente com a Constituição de 1891, o Estado e a igreja se separaram definitivamente (mais uma vez pero no mucho). A partir daí o Estado relegou de vez a religião ao âmbito do privado, tendo o indivíduo o direito da liberdade religiosa, podendo este escolher livremente seu culto, ou mesmo não cultuar nada. As religiões puderam se organizar livremente pelo Estado brasileiro (outra vez pero no mucho), pois não caberia ao Estado legislar no âmbito do privado, mas apenas no público.  Sendo assim, as instituições religiosas puderam criar ou manter seus ritos, dogmas e regras (desde que não ferissem os princípios da Constituição), logo, o Estado não tem o direito de obrigar o pastor ou o padre a casar ninguém se nas regras de determinada religião isso não for previsto.
Contudo, vale salientar que o casamento religioso só tem validade espiritual e para o convívio dentro dos próprios círculos religiosos, pois os contratos de casamento com validade legal são emitidos pelo Estado por meio dos cartórios.
Ah, mas o casamento entre homossexuais fere os princípios cristãos e são má influência para os meus filhos!! Vale lembrar que o Brasil foi formado em bases cristãs católicas, e que a maior parte dos brasileiros se confessa cristã. Logo, todos os homossexuais daqui cresceram nesse ambiente supostamente cristão. Se o ambiente e o exemplo fossem tão determinantes assim, tais indivíduos seriam cristãos heterossexuais, não gays. Da mesma forma, ínsito que o Estado não deve se ater a normas religiosas para regular as relações entre os diversos cidadãos, haja vista que ele é laico.

No mais, a legalização do casamento entre homossexuais apenas aproxima um pouco mais as diversas sociedades da ideia iluminista da igualdade perante o Estado, pois reconhece que a orientação sexual do indivíduo não serve de atributo para tirar seu direito de cidadão, por conseguinte, de celebrar a assinatura de um contrato, como é o casamento.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Cabra Macho

Por mais de três décadas viveu
sem ter tido uma só mulher.
Só teve amigos homens
e não formou a tal família,
como dizem que deus quer

Uma vez subiu num monte;
Foi encontrar uns camaradas.
Seu corpo estava reluzente;
disseram ali não ser mais homem,
mas deus com face transformada

Transgrediu algumas regras;
foi por isso então julgado.
Antes de sofrer a sua pena,
jantou com amigos homens
e por um homem foi beijado

Durante aquela derradeira ceia,
antes que dali todos saíssem;
Fez então seu último pedido:
Desejava que os amigos homens
seu corpo ali mesmo consumissem

Ensinou aos amigos homens
a amar incondicionalmente:
Rico, pobre, enfermo ou puta,
livre, escravo, nada importa
Afinal é tudo gente

Apanhou, sofreu, chorou, morreu
e não importa o que eu acho
Morreu jovem, morreu virgem
Pelos homens caçoado,
Mas acreditem, ele era um cabra macho

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O inverso é o lado certo

Não sinto o inverso do amor, mas sinto que amo inversamente. Não presuma que por dizer que amo inversamente eu odeio aquela que inversamente amo, pois fazendo isso incorrerás no inverso do acerto.
Tendo certa ordem na desordem que é o amor, primeiro apaixona-se pela beleza, depois encanta-se pelos demais atributos. Fiz o inverso - mesmo seguindo a ordem e tendo percebido logo de início aquela jovial beleza – e me apaixonei pelo modo invertido com que ela encara o mundo e sua ordem, pelo modo como inverte minhas palavras e as próprias, pelo modo como enxerga a si mesma – o inverso dos demais.
Invertendo valores éticos da ordem vigente desordenou meu modo de pensar e hoje penso o inverso do que pensava - e criou-se uma nova ordem de pensamento inverso.
Amei primeiro, apaixonei-me depois. Casamo-nos antes de namorar, e não namoraremos nunca, pois antes de pedir em namoro, para sermos o inverso, teremos de fazer e terminar uma poesia inversa que nunca termina por não começar.

Eis a poesia prometida a ti, poesia inversa por não ter versos, 

sábado, 2 de maio de 2015

A terceirização divina.

Numa foto que satirizava um trabalhador parecido com Cristo (com a imagem de Jesus construída pelos europeus), a senhorita Gaby Martins brincou dizendo que ele certamente seria terceirizado. Aí veio a tola ideia de juntar num texto inútil a divindade e a terceirização. Dessa junção percebi que a divindade é a precursora da terceirização no mundo. Mas não levem a mal, posto que nada do que aqui segue é sério, embora trate de um assunto seríssimo.
Não pretendo me estender em grandes análises, até porque não se trata de assunto sério, mas de devaneio e falta do que fazer. Entretanto vejamos como a divindade já terceirizou serviços na terra em algumas ocasiões. 
Tendo se arrependido de toda a criação, resolveu deus acabar com ela. Se apiedando de uma família, resolveu ele dar uma outra oportunidade, não sem lançar mão de obra de grande vulto, a saber, um dilúvio. Contudo, empreender um dilúvio era obra cansativa, e ainda mais tendo um serviço extra: salvar parte da criação. Foi aí que o intelecto divino resolveu o problema e diminuiu o esforço: ficou ele com a obra do dilúvio, e terceirizou a obra da salvação. Vale salientar que a atividade meio era a construção da arca, e a atividade fim era o dilúvio (óbvio que o dilúvio era a atividade fim: fim de tudo - ou quase!), por isso deus pode terceirizar Noé para a construção da arca.
Mas aí ainda não havia se caracterizado a terceirização de forma muito clara. Isso se desenvolveu com o tempo. Moisés também foi terceirizado quase nos mesmos termos que Noé. Tendo deus de empreender a construção de uma cidade, tinha antes de libertar os hebreus do Egito. Moisés foi terceirizado e incumbido desta obra que se caracteriza como atividade meio, posto que a atividade fim era a construção da cidade na terra prometida aos Hebreus. Sabedor da legislação vigente, deus não quis dar sopa para o azar, e impediu Moisés de entrar nas terras onde se havia de construir a cidade, justamente para que ninguém dissesse que ele (deus) estaria terceirizando também a construção e a entrega dos lotes na terra santa.
Mas pulemos os casos em que a terceirização foi usada sem estar nos moldes hoje conhecidos. Passemos para o primeiro em que ela foi feita nos moldes atuais.
Estando deus preocupado com os seres humanos, pensou na maior obra já realizada: a salvação de toda a humanidade. Precisava, então, vir ele mesmo aqui na Terra depois da grande obra da criação do universo, obra que durou longos seis dias. É óbvio que podem dizer que a obra do dilúvio foi mais longa, durando quarenta dias, entretanto, fazer chover é fichinha perto de construir um universo inteiro. Podem também objetar e dizer que um universo é mais difícil de se fazer do que salvar toda a humanidade, contudo, esquecem que o universo uma vez feito nunca mais precisou de reparo, enquanto a humanidade...ah, a humanidade!!! Tanto a obra de salvação de toda a humanidade foi a maior já pensada que foi planejada e executada em 33 anos. Vejam bem, 33 anos, não dias.
Essa obra era tão fatigante, tão dura de ser levada a cabo que deus, já afeito às terceirizaões, resolveu contratar uma empresa brasileira, a Espírito Santo S.A., para executar a obra. Deus disse o que queria e esta empresa cuidou de tudo, inclusive contratando ela mesma o funcionário, a saber, um tal Jesus. Não preciso dizer quais são os ônus da terceirização, não é mesmo? Adivinha quem fez tudo sozinho? Isso mesmo, o pobre carpinteiro contratado desde o ventre para tal obra. Foi contratado e fez tudo sozinho. Ele se dedicou por 33 anos nesta obra, e quando precisou da ajuda da empresa, a Espírito Santo S. A. virou as costas. O que pobre trabalhador fez? Pediu auxílio ao contratante da Empresa, mas não foi atendido - como ele mesmo disse, foi abandonado. Resultado? Nem aposentadoria ele teve direito por não ter completado os 35 anos de contribuição. O pobre trabalhador teve de ir até o inferno para conseguir o pequeno direito da ressurreição, mas não sem um longo processo de três dias (parece pouco, mas pense que é metade do tempo de toda a criação do universo). 
Que lição podemos tirar disso? A terceirização é um câncer que sempre acometeu o trabalhador em todas as épocas, seja ele carpinteiro divino ou apenas um de nós, reles mortais. Alguns "trabalhadores" de Cristo na Câmara estão defendendo a ampliação das terceirizações em nosso país, eis o mais engraçado. Ou lutamos contra isso ou esperaremos longos anos nos processos que correm nos tribunais do inferno, torcendo por um milagre que nos faça ganhar a causa e ter como indenização a ressurreição...


terça-feira, 31 de março de 2015

Vai um placebo aí?

O grupo de médicos da fé e da moral está dando mais uma vez provas da extrema capacidade diagnóstica e das brilhantes prescrições para tratamento de moléstias. Da mesma forma como receitaram o IMPITIMA e a volta da ditadura militar como remédio para o mal crônico da corrupção, segundo estes incontestes doutores, o problema da criminalidade e do envolvimento de adolescentes neste mundo obscuro é a certeza da impunidade. A brandura das leis, seria, pois, o câncer que gera a criminalidade. 
Qual seria, então, para eles, o grandioso tratamento para esta terrível moléstia? Na verdade, as medidas mostram a excelência destes doutores, posto que materializam a superação do velho jargão "melhor prevenir do que remediar". Eles não só medicam como previnem de uma só vez, prescrevendo a diminuição da maioridade penal.
Segundo o deputado Marcos Rogério, a medida "tem como objetivo evitar que os jovens cometam crimes na certeza da impunidade". Brilhante! Como nunca pensamos nisso? Temos mesmo de agradecer a sorte de termos tais doutores para nos cuidar e sanar nossas doenças sociais.
Se ao receitarem IMPITIMA e ditadura militar se esqueceram que ao longo da história estes dois remédios já foram usados no tratamento do Brasil e não surtiram efeito, ao prescreverem a redução da maioridade penal acreditando que esta medida diminuirá a criminalidade de pessoas na faixa dos 16 aos 18 anos eles demonstram outro profundo desconhecimento. Ocorre que como já discuti, a certeza da pena de morte para o crime de roubo não impediu os ladrões que foram crucificados com Jesus de praticarem tal delito. Da mesma forma, como explicar que as mesmas punições não fazem com que os maiores de 18 anos deixem de cometer crimes? O que garante que os "novos maiores" vão mesmo parar de cometer delitos por conta de serem passivos de serem punidos como "maiores"?
A miopia ou o dolo destes doutores faz com que eles enxerguem nos sintomas o mal a ser extirpado, e tratam os sintomas com uso de placebos. Não vão fazer desaparecer os sintomas com o uso de placebos, muito menos curar a moléstia. E o que é pior: além de não curar a doença vão criar efeitos colaterais gravíssimos.
A doença da corrupção é causada em grande parte pela estrutura política que ora temos, que faz com que empresas privadas tenham seus interesses resguardados pelos políticos que elas mesmas ajudam a eleger. Os sintomas deste mal são os diversos escândalos de corrupção que une políticos e grandes empresas. Combater a corrupção usando como remédio a ditadura ou o IMPITIMA é combater os sintomas e deixar a verdadeira moléstia incólume. Como efeito colateral teremos novos casos de corrupção que ocorrerão debaixo dos panos e da impressão de sanidade que estes placebos causam em primeiro momento.
A doença da criminalidade é a extrema pobreza e a exclusão social que vitima grande parte da população. Diminuir a maioridade penal gerará nas pessoas a mesma sensação de maior segurança (ou vingança) por acharem que agora haverá punição. Será mais um tratamento de um sintoma e não da moléstia, e mais uma vez com uso de placebo. Como efeito colateral teremos um aumento da população nos presídios já superlotados e sucateados;  veremos que os crimes que anteriormente eram cometidos pelos "menores" de 16 e 17 anos passarão a ser praticados com maior frequência pelos de 13, 14 e 15. Ou seja, não surtirá efeito nenhum tal tratamento.
É interessante notar que a discussão acerca do uso destes placebos ganha espaço na mídia justamente quando há uma grande luta em vários estados para a adoção do único remédio que pode combater essa moléstia com alguma eficácia: Educação de qualidade para todos. 
Estes doutores ministram a Educação em doses homeopáticas à população que sofre da "síndrome de vaso sanitário",  e tirando proveito desse mal, fazem essas pessoas acreditarem que os sintomas são as causas, e os remédios por eles receitados são os melhores, quando não passam de placebos sem eficácia alguma. E como efeito colateral deste erro médico vemos pedidos de impeachment, de ditadura militar e a felicidade pela redução da maioridade penal. Enquanto isso vemos o descaso com a educação...

sexta-feira, 27 de março de 2015

O cortejo fúnebre

Dentre olhares curiosos e aplausos de apoio, seguiu rumo à Diretoria de Ensino de Ribeirão Preto um ato que reunia em si diversos significados. Era dicotomia pura. De um lado significa um cortejo fúnebre face ao total sucateamento da educação nas escolas estaduais que tiveram até os itens de higiene reduzidos para “conter gastos”. Por outro lado, significava o renascimento do movimento estudantil, que, tal como se reverberava no trajeto. “nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu? Aqui está presente o movimento estudantil?”.
Frente à inércia da D.E. e aos escárnios constantes do atual governador face às reivindicações e manifestações dos professores, o que se viu foi o início do que se pretende duradouro e forte: a reação dos que são diretamente afetados por essa maneira truculenta e desrespeitosa com que é gerida e deseducação de São Paulo.
Se de um lado o governo de maneira leviana e forçosa tenta a todo custo, com a ajuda de fortes aliados como a Foia de sp, negar a existência de uma grave crise por meio de notícias de que o bônus pago aos profissionais da educação será o maior da história devido ao ótimos resultados alcançados; se tenta desesperadamente escamotear o movimento grevista que acomete o Estado todo reverberando a inexistência ou deslegitimando o movimento; se tenta impedir que os Professores se unam mais ainda proibindo que profissonais em greve entrem nas escolas para dialogarem com seus pares; se pede para juntarem salas para que os que ainda não estão em greve “tapem buracos”; se pede às diretoras de escola e diretorias de ensino que contratem emergenciais só para que pareça que tudo corre normalmente nas escolas; se por um lado o governo age com tamanha mesquinhez achando que a população é tão inocente assim, por outro lado alunos e Professores se unem para desmascarar as inverdades desse governo de Deseducação.
Nas últimas semanas tem ocorrido diversas manifestações em nossa cidade referentes aos problemas nas escolas. Ontem foi apenas a materialização da insatisfação que perpassa a grande maioria da sociedade, que se não estava em peso no ato, ao menos era representada nele.
Contrariando tudo o que se espera, muitos alunos encabeçaram o movimento em apoio à greve dos Professores, e não como normalmente se diz por aí que o fazem simplesmente por não terem aulas enquanto há greve, mas sim por não mais aceitarem ver seus docentes em situações humilhantes e por vezes desumanas. Os alunos perceberam que pior do que não ter aula durante a greve é não ter aula mesmo tendo Professor em sala. Eles estão se dando conta de que a precariedade da educação traz malefícios para toda a sociedade, principalmente para eles.
Agindo assim o movimento estudantil dá exemplo para toda a sociedade, principalmente para os próprios Professores. Agindo assim ficará difícil o governo escamotear o quanto tem negligenciado as escolas públicas, porque quem o fala tem legitimidade e experiência de causa. Não é o grande redator que estudou nas melhores escolas particulares e defende a meritocracia ou o senhor governador que chama de novela o movimento grevista dos Professores que devem dizer o que é a educação paulista, pelo contrário, são os alunos que sofrem com a falta de Professores, que estão muitas vezes espremidos em uma sala de aula, são o Professores que recebem pouco perto de sua importância, que, sendo profissionais, são deslegitimados e ridicularizados pelo governo que podem dizer o que é a deseducação paulista. Em suma, somente quem vive o cotidiano das escolas sabe dizer com precisão os problemas por elas enfrentados, porque os demais que estão de fora apenas veem os muros.
O despertar dos alunos que, dentro e fora das escolas dão seu apoio aos Professores será o golpe final desferido no escárnio do governo.
O movimento de ontem mostrou isso, e tende a crescer.
Ontem foi o cortejo fúnebre do desrespeito geral do Alckmin em relação à educação. Ontem foi o revigorar do movimento estudantil que vai tomar conta das ruas e reivindicar o que é seu direito: Educação de qualidade.

Todo apoio aos Professores e todo aplauso aos alunos! Força à todos!

terça-feira, 17 de março de 2015

Complexo de vaso sanitário

Foi uma experiência simples que mostrou como sofremos do “complexo de vaso sanitário”, recebendo qualquer merda integralmente sem ao menos questionar a veracidade das informações. Eu entendo o porquê, mas calar-se diante disso é um problema gravíssimo.
Ano passado me lembro de ter desmentido um sujeito “idôneo” e “cristão” que disse que o governo de então não tinha concedido aumento real dos salários, pois segundo ele a inflação foi muito maior no período. Ele usou um jornalzinho de ofertas de 1996 e disse que os preços eram bem menores, o que provava a mentira do aumento dos salários. Muita gente concordou com ele e compartilhou tal postagem com ar de indignação, ferozmente propagando que era uma mentira o que dizia o governo. Eu tive o prazer de comparar o aumento de produto por produto, preço por preço com o aumento do salário mínimo no mesmo período para ver se fazia sentido, e, como sempre, os rapazes estavam mentindo, e uma mentira se fazia passar por verdade.
Isso me custou boas horas de pesquisa e abdicação de estudos outros, tempo e paciência que muitos não têm. Por isso entendo o complexo de vaso sanitário, onde a maioria adota por verdade qualquer coisa “moralizante” propagada aos gritos.
A bola da vez agora são os escândalos de corrupção. Inegavelmente eles estão aí para qualquer um ver, e embora sejam sim usados de maneira política numa articulação entre mídia e partidos da direita, eles devem ser severamente punidos. Contudo, o que me deixa um tanto receoso e por vezes surpreso é a capacidade de alguns analistas políticos formados na Veja em atrelar a corrupção no Brasil ao período dos últimos 12 anos. Essa ideia de corrupção neste período é amplamente acreditada por parte da população acometida pelo complexo de vaso sanitário, e tem por reação os incessantes e raivosos pedidos de impeachment e até o da volta da ditadura militar para, como dizia Jânio Quadros, “varrer a corrupção”, ou mesmo tirar o Brasil do “mar de lama”, mote do grandiloquente Lacerda.
Peguei, então, o seguinte trecho e o mostrei aos alunos  (e também postei no facebook) dizendo ter sido escrito em Fevereiro deste ano (2015) por um pensador conhecidíssimo e contrário ao governo. Eis o trecho:

"Toda a nacionalidade no momento que atravessamos tem sua vista volvida sobre o caso [...] presidencial […] porque ele se prende ao feliz futuro da patria [...] nenhum brasileiro cônscio de seus deveres deverá na hora presente entregar-se a letargia olvidando que a nação atravessa uma crise de falta de homens honestos [...] A democracia […] perdeu de vistas a sua verdadeira fonte de inspirações; […] estamos simulando o regime da democracia.
O caráter vai em decadência, o critério politico não mais existe [...] Vamos. pois, então nós brasileiros livres que andamos de acordo com o nosso pensamento, e longe das machorcas politicas, vamos apontar o verdadeiro homem que saberá dirigir a nossa terra [...] gritemos a plenos pulmões [...] em prol da nossa felicidade, em prol do regime democrático que ora acha-se falido e derrocado." 

A maioria quando viu diretamente associou aos problemas inegáveis do governo atual, alguns, inclusive, dizendo ser justo o impeachment, dado a corrupção do governo. A maioria disse que quem escreveu o fizera de maneira lúcida e que se enquadrava perfeitamente no cenário político atual. Contudo, quando revelei a verdadeira fonte e o ano de publicação gerou-se um pequeno incômodo a princípio. O trecho fora retirado do Jornal A Tarde em abril de 1937.
É óbvio que tais palavras são facilmente relacionadas, e com certa razão, aos dias atuais. Contudo, ao descobrirem a data em que foram publicadas perceberam que a corrupção no Brasil é crônica, e que sempre o Estado de São Paulo contesta a legitimidade do governo quando este não é paulista ou bem quisto por São Paulo. Essa postura gerou, inclusive, os conflitos de 1932, o golpe de 1964 e está aí até os dias atuais na ideia de separatismo pós-eleições e no pedido de IMPITIMA e intervenção militar. Se eu não tivesse revelado a verdadeira fonte e ano de publicação o complexo de vaso sanitário faria com que as palavras fossem realmente creditadas ao senhor a quem atribuí em princípio, tal como todos creram no primeiro momento, e fomentaria, certamente, mais ainda o ódio ao atual governo e pedidos de IMPITIMA para limpar a pátria, pedido incoerente de democracia acabando com o processo democrático.
A corrupção não foi inventada há 12 anos, como apontam alguns líderes de direita e a mídia e o complexo de vaso sanitário faz alguns acreditarem. Não é a intervenção militar que dará jeito, nem o IMPITIMA, haja vista que as mesmas reclamações de 1937 estão presentes hoje, e as duas soluções apresentadas já foram utilizadas sem dar o menor resultado, posto que a corrupção ainda está aí.
A diminuição da corrupção ou o seu fim passa pela reforma política, não pelo fim do processo democrático. Antes de lutar pelo IMPITIMA ou defecar pela boca vociferando pela volta dos militares, grite a plenos pulmões pela reforma política. Peça ao senhor Gilmar Mendes parar de enrolar e devolver logo o projeto do fim do financiamento privado de campanha, projeto já votado pelos ministros do STF e cuja votação acaba com esse câncer na política brasileira.

O complexo de vaso sanitário tem tratamento: estudos e pesquisa.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

De qualquer jeito, mil vezes

Se eu pudesse escolher não te conhecer,
se possível fosse escolher não te amar,
e aquele dia que te vi apagar
para de outra forma viver.

Aqueles problemas todos pudesse evitar,
fazer nada disso existir,
podem então presumir,
que tudo iria eu mudar.

Mas como sou do contra, quebro a rima e a métrica que já vinham sem jeito, e digo que se podendo eleger entre ser ou não ser, entre te conhecer ou não, escolheria mais mil vezes, ainda que errado, mas escolheria você. J