segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O adeus e o quase amor

Inventando uma história pra acalentar meu bem
Senti vontade de escrever alguns versos
Falar de amor, coisas bonitas, usar das rosas
Mas meu jeito de melhor falar é mesmo em prosa
Então escrevi essas pra outro qualquer alguém

Conjugamos juntos o verbo “ler” sem omitir
Eu te li, você tentou me ler, nós nos lemos
Mas o verbo que mais nos marcou, sinceramente
Foi um que todo aquele que conjuga se arrepende
O temido e detestado verbo chamado “desistir”

Tivemos uma história que nunca começou
Esse romance acabou sem começar e antes do ápice
Desistimos da história que sequer chegou ao meio. 
Adeus! Sem início e sem fim, tudo por causa do receio
Não falei das rosas, mas provei do quase amor

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Não é uma matéria do sensacionalista! O caso é grave!

Pessoal, cuidado! Biólogos acabaram de catalogar uma nova espécie de vírus e em um estudo conjunto com pesquisadores da FMRP, soltaram um informe alarmante. Se trata da espécie “coxiniens golpistium entreguistae”, que seria uma mutação de quatro espécies que, ainda de maneira desconhecida pelos pesquisadores, passaram a viver em simbiose, a saber, as espécies “idiotius inutilis”, “liberalistae economicus”, “golpistae antidemocraticus” e “regressae militaris”. Segundo o estudo, essa mutação causaria o emburrecimento crônico dos seus hospedeiros, causando invariavelmente a incapacidade de pensar criticamente, deixando o enfermo em um estado lastimável de apatia e repetição incessante de frases prontas, o que levou a alguns dos especialistas, amparados no imenso número de pessoas com essa enfermidade que de maneira infantilóide pintaram a cara de verde e amarelo e se reuniram em domingos para fazerem a “dancinha da direita xuxista” (que os especialistas supõe ser a dança do acasalamento que o vírus induz o hospedeiro a realizar), a dizerem que o apocalipse zumbi pintado nos cinemas e séries de televisão está se tornando realidade no Brasil.
Segundo o pesquisador Carlos Marques:  

“O caso é gravíssimo! Até então não conseguimos compreender bem a atuação do vírus, nem a maneira pela qual ele se propaga. Tentamos o tratamento dos enfermos ministrando aulas de história, mas sem sucesso, pois depois de infectados seus ouvidos se tornam seletivos e só escutam babaquices. O pior de tudo é que não podemos esperar medidas vindas das autoridades políticas, pois muitas já comprovadamente eram hospedeiras da ‘golpistae antidemocraticus’, e agora dão claros sinais de terem contraído a ‘coxiniens  golpistium entreguistae’, vide a entrega do pré-sal aos interesses imperialistas. Infelizmente temos muito a TEMER os interesses de FORA nesse momento”.

Para a nossa sorte, entretanto, os sintomas são facilmente detectáveis, a saber: falta de senso crítico; postura infantilóide materializada em caras pintadas de verde e amarelo; aglomeração de pessoas fazendo uso de camisas da CBF em domingos sem jogo da seleção brasileira; indignação seletiva; complacência exagerada contra psdbistas, DEMOcratas e pmdbistas; gritos incessantes de “Fora Dilma”, “Fora Lula”, “Fora PT”, “Vai pra Cuba”; “Tem que privatizar tudo”; e em casos mais graves, “volta ditadura”, “bandido bom é bandido morto” (também aqui se encontra a indignação seletiva), “Deixa o Michel trabalhar” e “Boçalnaro 2018” (frases muitas vezes ditas destilando ódio).
Os estudiosos afirmam que estas frases também podem ser incessantemente escritas em redes sociais, e desconfiam que o vírus também seja transmitido via internet, sendo assim, até que se tenha mais dados sobre tratamentos e meios de impedir o contágio, orientam as pessoas que se depararem com esses indivíduos perigosos a correr, mas correr muito mesmo, de preferência para o alto das colinas, a fim de não serem infectadas.

Portanto, cuidado, pessoal, o caso é grave!

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Você saudades

As vezes bate uma saudade de não sei quem ou de não sei o que e em princípio parece coisa inexplicável. Aí, procurando de um lado, num instante, de repente, você de outro canto invade meu pensamento e o inexplicável se explica, mas paradoxalmente a saudade aumenta. Pensando sobre isso concluí que nem sempre saber qual moléstia nos acomete ajuda a diminuir o desconforto que esta causa, muito vezes, ao contrário, só faz acentuar as dores. Mesmo assim serve de algum alento das moléstias saber as cores. Enfim, você moléstia, mas você não remédio: você saudades.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Maria teve escolha?

Já adianto ao leitor mais sensível e religioso que não siga neste texto, pois se minha fé na divindade não existe, tampouco existe o freio destes dedos profanos. Espero, porém, que os mais audazes me perdoem a franqueza e a falta de conhecimento teológico, e que rezem por mim para que não me aconteça de um fiel muito fiel me cobrar o preço de minha vida pela blasfêmia que segue.
Na onda dos debates sobre as relações de opressão que as mulheres sofrem pelo machismo estrutural, penso haver um caso no mínimo muito estranho no mito cristão. Maria, mãe de Jesus, sofreu algum tipo de violência sexual? Eis a pergunta que me fiz por um tempo - se acaso o leitor sensível e religioso me seguiu até aqui, peço que se for impossível não me odiar, que ao menos me faça justiça e que assuma que eu avisei para não continuar lendo.
A curiosidade matou o gato, e espero que a minha não me mate. De qualquer forma, me ungi com as pulgas atrás da orelha e me coloquei a pesquisar a resposta de minha dúvida profana. Fui buscar na leitura de meu xará algumas respostas, e para o leitor religioso que até aqui se aventurou a resposta que Maria me deu é que não houve estupro por parte de deus, pois houve consenso naquela cópula, já que ela disse: - “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra”.
Ocorre que normalmente as mulheres acobertam os agressores por medo da violência do mesmos, e era bem conhecida a ira e a vingança do deus do antigo testamento, e não tendo Jesus nascido para ensinar os paranauês do amor e tal, é pouco provável que Maria ousasse se opor ao apetite sexual divino – o coitado do Zacarias que o diga, pois simplesmente por duvidar da gravidez de sua mulher Izabel (tenho dúvidas sobre a verdadeira paternidade de João) fez com que a divindade o deixasse um bom tempo mudo.
No texto de meu xará diz que o anjo Gabriel invadiu a casa de Maria, e tendo ela se assustado o mesmo disse: - “Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus”. Após isso ele anunciou o seguinte à pequena virgem: - “E eis que em teu ventre conceberás, e darás a luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus”. Maria, surpresa, pergunta ao anjo como isso seria possível se ela ainda não conhecia os prazeres da carne, ao que ele responde: - “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra”.
O que chama a atenção em toda essa história é que em momento algum o anjo pergunta a Maria se ela aceitava tudo o quanto era proposto, ou seja, que se tornasse mãe, mas sim anunciava o que o altíssimo já tinha decidido de si para si fazer. Embora Maria tenha aceitado aquele desígnio até com certa alegria dadas as promessas feitas pelo pai do menino vindouro (“Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo;; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim”) a atitude da jovem se assemelha muito mais a subserviência à divindade e resignação com o mal (ou bem) do qual não poderia se livrar do que uma ação fruto de escolha.
O final da História é bem conhecido, pois o menino cresceu pobre e morreu numa cruz perguntando aos berros ao seu pai: - “Por que me abandonaste!?”; Maria chorou a morte do filho com amigos. Embora a divindade seja metafísica e Maria um ser palpável, o que os coloca em planos distintos e desmistifica em mim a ideia de abuso sexual e abuso de poder, eis a dúvida que ainda me atormenta, caro leitor: Maria teve escolha?