sexta-feira, 26 de junho de 2015

Porque não muda nada...

O que mudaria na vida dos brasileiros se seguíssemos o exemplo estado-unidense e legalizássemos de vez o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Na verdade, aumentaria o desespero dos grupos neopentecostais que se posicionam contrários a esta medida, mas em suma não mudaria nada, a não ser para os próprios contraentes do matrimônio.
No artigo quinto da Constituição Federal está escrito que não se deve fazer qualquer tipo de distinção entre os indivíduos, seja ela de raça, gênero, convicção política ou religiosa, entre outras. Essa ideia oriunda do Iluminismo visava acabar com lógica dos deveres dos súditos, acabando, assim, com as diferenças sociais do antigo regime que pesavam em favor da nobreza em detrimento da maior parte da população, implantando a ideia dos direitos do cidadão. Após a Revolução Francesa e a implantação da República naquele país, acabou-se com as diferenças (pero no mucho) e todos foram elevados à condição de cidadãos.
Nessa lógica haveria apenas o Estado a organizar e mediar as divergências entre os inúmeros cidadãos. Sendo o casamento um contrato celebrado entre dois indivíduos, cabe ao Estado mediar essa parceria, dando pleno amparo legal aos dois contraentes do matrimônio sem que qualquer característica seja considerada empecilho a esta união.
O casamento gay em nada se diferencia do heterossexual, então? Não!
Se o Estado Democrático de Direito não enxerga distinção de gênero, raça ou qualquer outra possível, sobraria, em ambos os casos, apenas dois cidadãos contraindo o matrimônio.
Mas o pastor e o padre das igrejas terão de celebrar os casamentos entre os homossexuais? Também não!
Desde a implantação da República no Brasil, mais precisamente com a Constituição de 1891, o Estado e a igreja se separaram definitivamente (mais uma vez pero no mucho). A partir daí o Estado relegou de vez a religião ao âmbito do privado, tendo o indivíduo o direito da liberdade religiosa, podendo este escolher livremente seu culto, ou mesmo não cultuar nada. As religiões puderam se organizar livremente pelo Estado brasileiro (outra vez pero no mucho), pois não caberia ao Estado legislar no âmbito do privado, mas apenas no público.  Sendo assim, as instituições religiosas puderam criar ou manter seus ritos, dogmas e regras (desde que não ferissem os princípios da Constituição), logo, o Estado não tem o direito de obrigar o pastor ou o padre a casar ninguém se nas regras de determinada religião isso não for previsto.
Contudo, vale salientar que o casamento religioso só tem validade espiritual e para o convívio dentro dos próprios círculos religiosos, pois os contratos de casamento com validade legal são emitidos pelo Estado por meio dos cartórios.
Ah, mas o casamento entre homossexuais fere os princípios cristãos e são má influência para os meus filhos!! Vale lembrar que o Brasil foi formado em bases cristãs católicas, e que a maior parte dos brasileiros se confessa cristã. Logo, todos os homossexuais daqui cresceram nesse ambiente supostamente cristão. Se o ambiente e o exemplo fossem tão determinantes assim, tais indivíduos seriam cristãos heterossexuais, não gays. Da mesma forma, ínsito que o Estado não deve se ater a normas religiosas para regular as relações entre os diversos cidadãos, haja vista que ele é laico.

No mais, a legalização do casamento entre homossexuais apenas aproxima um pouco mais as diversas sociedades da ideia iluminista da igualdade perante o Estado, pois reconhece que a orientação sexual do indivíduo não serve de atributo para tirar seu direito de cidadão, por conseguinte, de celebrar a assinatura de um contrato, como é o casamento.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Cabra Macho

Por mais de três décadas viveu
sem ter tido uma só mulher.
Só teve amigos homens
e não formou a tal família,
como dizem que deus quer

Uma vez subiu num monte;
Foi encontrar uns camaradas.
Seu corpo estava reluzente;
disseram ali não ser mais homem,
mas deus com face transformada

Transgrediu algumas regras;
foi por isso então julgado.
Antes de sofrer a sua pena,
jantou com amigos homens
e por um homem foi beijado

Durante aquela derradeira ceia,
antes que dali todos saíssem;
Fez então seu último pedido:
Desejava que os amigos homens
seu corpo ali mesmo consumissem

Ensinou aos amigos homens
a amar incondicionalmente:
Rico, pobre, enfermo ou puta,
livre, escravo, nada importa
Afinal é tudo gente

Apanhou, sofreu, chorou, morreu
e não importa o que eu acho
Morreu jovem, morreu virgem
Pelos homens caçoado,
Mas acreditem, ele era um cabra macho

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O inverso é o lado certo

Não sinto o inverso do amor, mas sinto que amo inversamente. Não presuma que por dizer que amo inversamente eu odeio aquela que inversamente amo, pois fazendo isso incorrerás no inverso do acerto.
Tendo certa ordem na desordem que é o amor, primeiro apaixona-se pela beleza, depois encanta-se pelos demais atributos. Fiz o inverso - mesmo seguindo a ordem e tendo percebido logo de início aquela jovial beleza – e me apaixonei pelo modo invertido com que ela encara o mundo e sua ordem, pelo modo como inverte minhas palavras e as próprias, pelo modo como enxerga a si mesma – o inverso dos demais.
Invertendo valores éticos da ordem vigente desordenou meu modo de pensar e hoje penso o inverso do que pensava - e criou-se uma nova ordem de pensamento inverso.
Amei primeiro, apaixonei-me depois. Casamo-nos antes de namorar, e não namoraremos nunca, pois antes de pedir em namoro, para sermos o inverso, teremos de fazer e terminar uma poesia inversa que nunca termina por não começar.

Eis a poesia prometida a ti, poesia inversa por não ter versos,