sábado, 8 de dezembro de 2012

Massificação, Autonomia e Liberdade

           No primeiro momento tais palavras parecem simples demais. Todos já as escutaram e têm uma noção ainda que tênue de seus significados. Entretanto, quando se tenta explicar o que exatamente tais palavras significam normalmente encontra-se dificuldades, assim como se encontrará se o objetivo for descrever quais as implicações que cada uma destas palavras têm na vida do indivíduo e da sociedade a qual ele pertence e como estes as encaram.

Se formos analisar os conceitos existentes por detrás de cada uma destas palavras chegaremos à conclusão de que são conceitos “platônicos”: suas existências estão condicionadas à abstração.
A liberdade em sua forma plena é inalcançável ao homem. O mesmo vale para a autonomia, que segundo a definição dada pelo Minidicionário Antônio Olinto da Língua Portuguesa proporcionaria ao indivíduo a mesma condição que a liberdade pretende proporcionar.

Em relação ao termo massificação, este, embora não seja sinônimo de autonomia e liberdade, segue o mesmo caminho enquanto conceito.

Tais conceitos, então, somente existem plenamente com suas significações quando em abstrações; têm a necessidade de estarem acompanhados de outros substantivos para podermos notar sua existência empiricamente.
Se a liberdade em sua forma plena nos é inalcançável por estarmos sempre presos à necessidade de escolher entre duas ou mais opções, não podendo optar por todas ao mesmo tempo, a “liberdade de escolha”, consequentemente, acaba sendo a nossa maior liberdade e necessariamente o maior direito. Notemos que a liberdade somente existe dentro de limites previamente estipulados, no caso: a liberdade de "escolha".
Aceitando que autonomia é um sinônimo quase simbiótico de liberdade, segue necessariamente o mesmo caminho.

Massificação segue, pois, a mesma regra de autonomia e liberdade: a palavra por si só torna-se um termo vago, dependendo também de um substantivo para lhe dar limites de ação ou mesmo “autonomia” de ação: massificação dos comportamentos, das ideias, etc.

A noção que se tem atualmente em relação à massificação é pejorativa- e talvez não pudesse deixar de sê-lo. Entende-se por massificação algum estereótipo estabelecido por uma elite dominante cuja única função é tirar a liberdade de escolha e a autonomia dos indivíduos das sociedades, para que estes, alienados, adotem padrões que lhes são impostos e não consigam perceber tal imposição.
Aceitar que haja uma massificação de qualquer espécie em qualquer sociedade é crer que os indivíduos agem segundo determinações exteriores, sem qualquer possibilidade de fugirem a tais determinações. Entretanto, dentro destas determinações existe uma margem de liberdade por onde os indivíduos agem contrariamente a elas.

Todavia, se recorrer à ideia exterioridade de Durkheim parece equivocado, é justamente sua ideia de coercitividade que parece encaminhar os indivíduos rumo a massificação: um indivíduo que foge aos padrões impostos é rechaçado, isolado, discriminado, podendo sofrer atentados morais e físicos por não adotar tais padrões.

Entretanto, o fato de haver uma força coercitiva que impele os indivíduos a escolherem por algum padrão por medo das sanções que a sociedade possa impor ao “desmassificado” ou “desmassificador” não nega necessariamente a existência do direito de escolha dos mesmos.

Nota-se, então, que o conceito massificação é antagônico aos conceitos autonomia e liberdade, entretanto, estes formam uma dialética: os indivíduos têm a liberdade e autonomia para escolherem ser massificados ou não. A massificação tenta tirar a autonomia e a liberdade dos indivíduos, mas sem o conseguir.