quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Escola "doutrinadora"

Numa discussão sobre o fechamento de escolas no estado de São Paulo houve quem dissesse que não se importava muito com tal fato, posto que seria melhor que isso ocorresse do que se instalasse escolas "doutrinadoras". 
Sendo assim, farei este pequeno ensaio para discutir tal assertiva de um dos arautos da sapiência, bastião da verdade.

A escola no Brasil (e no mundo), e em especial no Estado de SP, sempre foi e ainda é “doutrinadora” sim. Para atestarmos isso basta olharmos para sua história, desde aquilo que seria sua gênese: a catequese. A catequese visava e visa até hoje formar cristãos entre as crianças, ensinando-as desde cedo a sua doutrina. 
Mas beleza, vamos falar do profano, deixando o “sagrado” em paz, e voltar os olhos para fora do Brasil e longe de nossos tempos.
Após a Revolução Francesa, quando caiu o Antigo Regime, uma das primeiras ações pensadas pelos novos líderes foi a criação de escolas publicas onde se tivesse, entre outras coisas, o ensino de História. Com isso objetivava-se ensinar as crianças sobre os ideais iluministas e republicanos, garantindo o futuro do regime e a vitória da Revolução.
Situação parecida tivemos durante a ditadura militar no Brasil, quando o regime suprimiu do curriculum escolar matérias como História, Geografia, Sociologia e Filosofia, instituindo outras como Educação Moral e Cívica e as famosas OSPB (Ordem Social e Política Brasileira) e Estudos Sociais (onde se aprendia o hino e as datas "históricas), numa clara tentativa de impedir que determinados conhecimentos fossem transmitidos e que a ordem implantada a força não fosse contestada.
Seja pelo conteúdo proposto ou suprimido, seja por discussões feitas ou sumariamente impedidas de acontecer, sempre e em todos os tempos a educação ministrada atendia a propósitos muitas vezes inconfessáveis. Como diria Paulo Freire, “a educação é ideológica”.
Existe, entretanto, um grupo de pessoas que justamente por ter estudado nas escolas públicas paulistas afirma veementemente que partido A ou B está tentando doutrinar as crianças, como se a educação de hoje (ou de um passado recente) fosse isenta de ideologias, fosse um espaço neutro e as crianças de lá saíssem incólumes. Este tipo de ideia é prova cabal de que neste estado a educação é ideológica e atende a interesses tacanhos. As pessoas que sustentam essa posição equivocada são as mesmas que têm aversão aos livros, que defenestram Paulo Freire sem nunca sequer ter lido uma de suas obras, que desconhecem o processo histórico do próprio país, que não têm pensamento reflexivo (mas que são ótimas em decorar e repetir frases prontas), que não abstraem, e por isso mesmo não se dão conta de que sua condição é fruto justamente do projeto politico, cultural, econômico e social que estas escolas cumprem.
Sinto dizer, meus caros, mas vocês são prova de que a escola pública que o estado de São Paulo oferece é sim doutrinadora, e sua doutrina é a universalização da ignorância.