domingo, 16 de setembro de 2012

Estado Laico e livre arbítrio.


Um equívoco corriqueiro que acomete alguns religiosos é o concernente a associação feita entre Estado Laico com Estado “Ateu” e malígno.
Afirmam que o Estado Laico é um Estado Ateu por não ter por oficial nenhuma religião.
Baseados numa doutrina dualista onde somente existe bem e mal, um indivíduo que não é religioso (“do bem”) é necessariamente do mal. Ou seja, o Estado Laico, por não ostentar nenhuma religião, é situado necessariamente entre o mal.
A mesma teoria se aplica ao modo como eles interpretam os ateus. Por estes não acreditarem em deus são diretamente tidos por “parceiros do capeta”. Oras, se alguém não crê em uma entidade metafísica e inteligente que rege o físico, como pode acreditar no antagonista do que não crê? Pior ainda, como pode ele pactuar com o que não acredita?

Ultimamente, baseado nestas ideias, grupos religiosos tem cada vez mais se organizado politicamente. Um amigo católico, participante de um destes grupos, disse que pretendem em pouco tempo eleger um bom número de candidatos para acabar com o Estado Laico.
Segundo este amigo: “nós queremos dar o que há de melhor para quem amamos, por isso temos de entrar na política e impedir que os evangélicos tomem conta, assim como impedir que os ateus que defendem o Estado laico façam coisas erradas”.

Uma das coisas que este grupo católico mais prega em seus encontros é o tal do “livre arbítrio”. Segundo o que afirmam, livre arbítrio seria o direito inalienável de escolha concebido aos homens por deus.

O problema é que as ideias políticas deste grupo divergem totalmente do conceito de livre arbítrio pregado por eles.

“nós queremos dar” significa exatamente que os que ganharão não terão a chance de escolher. Nem sequer se perguntam se os que ganharão precisam mesmo daquilo, ou se querem realmente aquilo. O que será dado já está pré-definido. Será uma imposição feita a “quem amamos”.

Isso sem contar a discriminação existente contra os protestantes: “temos de entrar na política e impedir que os evangélicos tomem conta”. (Provavelmente o pensamento dos protestantes em relação aos católicos esteja permeado pelo mesmo ideal.)

O Estado Laico acaba dando a oportunidade de que os cidadãos pratiquem o “livre arbítrio” muito mais do que as religiões deixam seus fiéis. 

Um Estado Laico não é um Estado onde não se pode praticar religião. Pelo contrário. Ele somente não elege uma por oficial.
Um Estado que tem uma religião oficial torna ao mesmo tempo as demais religiões ilegais. Vide exemplo da Igreja Católica enquanto atrelada aos Estados.
Se o Estado deixasse de ser laico e adotasse uma religião oficial seria aberta uma perseguição contra as demais. Os cidadãos perderiam seu livre arbítrio, não poderiam escolher sua própria religião. Ou se acataria a oficial ou praticaria uma outra escondido sob risco de algum tipo de pena se descoberto.
O que o Estado Laico fez foi tirar a religião do âmbito público, ou seja, deixar de usá-la como ferramente para manter a ordem pública e transferi-la para o âmbito privado. Assim cabe ao cidadão escolher qual religião quer seguir e se quer seguir alguma.

A imposição de uma religião em detrimento das demais é um atentado contra o livre arbítrio.
Àqueles que dizem “amar ao próximo” deveriam entrar na política pensando no ser humano, no bem social, sem fazer distinção de credo religioso, como prevê a constituição do nosso Estado, que por sinal é LAICO.