O grupo de
médicos da fé e da moral está dando mais uma vez provas da extrema capacidade
diagnóstica e das brilhantes prescrições para tratamento de moléstias. Da mesma
forma como receitaram o IMPITIMA e a volta da ditadura militar como remédio
para o mal crônico da corrupção, segundo estes incontestes doutores, o problema
da criminalidade e do envolvimento de adolescentes neste mundo obscuro é a
certeza da impunidade. A brandura das leis, seria, pois, o câncer que gera a
criminalidade.
Qual seria,
então, para eles, o grandioso tratamento para esta terrível moléstia? Na
verdade, as medidas mostram a excelência destes doutores, posto que materializam a superação do velho
jargão "melhor prevenir do que remediar". Eles não só medicam como
previnem de uma só vez, prescrevendo a diminuição da maioridade penal.
Segundo o
deputado Marcos Rogério, a medida "tem como objetivo evitar que os jovens
cometam crimes na certeza da impunidade". Brilhante! Como nunca pensamos
nisso? Temos mesmo de agradecer a sorte de termos tais doutores para nos cuidar
e sanar nossas doenças sociais.
Se ao
receitarem IMPITIMA e ditadura militar se esqueceram que ao longo da história
estes dois remédios já foram usados no tratamento do Brasil e não surtiram
efeito, ao prescreverem a redução da maioridade penal acreditando que esta
medida diminuirá a criminalidade de pessoas na faixa dos 16 aos 18 anos eles
demonstram outro profundo desconhecimento. Ocorre que como já discuti, a
certeza da pena de morte para o crime de roubo não impediu os ladrões que foram
crucificados com Jesus de praticarem tal delito. Da mesma forma, como explicar
que as mesmas punições não fazem com que os maiores de 18 anos deixem de
cometer crimes? O que garante que os "novos maiores" vão mesmo parar
de cometer delitos por conta de serem passivos de serem punidos como
"maiores"?
A miopia ou o
dolo destes doutores faz com que eles enxerguem nos sintomas o mal a ser
extirpado, e tratam os sintomas com uso de placebos. Não vão fazer desaparecer
os sintomas com o uso de placebos, muito menos curar a moléstia. E o que é
pior: além de não curar a doença vão criar efeitos colaterais gravíssimos.
A doença da
corrupção é causada em grande parte pela estrutura política que ora temos, que faz com que empresas
privadas tenham seus interesses resguardados pelos políticos que elas mesmas
ajudam a eleger. Os sintomas deste mal são os diversos escândalos de
corrupção que une políticos e grandes empresas. Combater a corrupção usando
como remédio a ditadura ou o IMPITIMA é combater os sintomas e deixar a
verdadeira moléstia incólume. Como efeito colateral teremos novos casos de
corrupção que ocorrerão debaixo dos panos e da impressão de sanidade que estes
placebos causam em primeiro momento.
A doença da
criminalidade é a extrema pobreza e a exclusão social que vitima grande parte
da população. Diminuir a maioridade penal gerará nas pessoas a mesma sensação
de maior segurança (ou vingança) por acharem que agora haverá punição. Será mais um
tratamento de um sintoma e não da moléstia, e mais uma vez com uso de placebo.
Como efeito colateral teremos um aumento da população nos presídios já
superlotados e sucateados; veremos que os crimes que anteriormente eram
cometidos pelos "menores" de 16 e 17 anos passarão a ser praticados
com maior frequência pelos de 13, 14 e 15. Ou seja, não surtirá efeito nenhum
tal tratamento.
É interessante
notar que a discussão acerca do uso destes placebos ganha espaço na mídia
justamente quando há uma grande luta em vários estados para a adoção do único
remédio que pode combater essa moléstia com alguma eficácia: Educação de
qualidade para todos.
Estes doutores
ministram a Educação em doses homeopáticas à população que sofre da
"síndrome de vaso sanitário", e tirando proveito desse mal,
fazem essas pessoas acreditarem que os sintomas são as causas, e os remédios
por eles receitados são os melhores, quando não passam de placebos sem eficácia alguma. E como efeito
colateral deste erro médico vemos pedidos de impeachment, de ditadura militar e
a felicidade pela redução da maioridade penal. Enquanto isso vemos o descaso
com a educação...
Nenhum comentário:
Postar um comentário