sábado, 2 de maio de 2015

A terceirização divina.

Numa foto que satirizava um trabalhador parecido com Cristo (com a imagem de Jesus construída pelos europeus), a senhorita Gaby Martins brincou dizendo que ele certamente seria terceirizado. Aí veio a tola ideia de juntar num texto inútil a divindade e a terceirização. Dessa junção percebi que a divindade é a precursora da terceirização no mundo. Mas não levem a mal, posto que nada do que aqui segue é sério, embora trate de um assunto seríssimo.
Não pretendo me estender em grandes análises, até porque não se trata de assunto sério, mas de devaneio e falta do que fazer. Entretanto vejamos como a divindade já terceirizou serviços na terra em algumas ocasiões. 
Tendo se arrependido de toda a criação, resolveu deus acabar com ela. Se apiedando de uma família, resolveu ele dar uma outra oportunidade, não sem lançar mão de obra de grande vulto, a saber, um dilúvio. Contudo, empreender um dilúvio era obra cansativa, e ainda mais tendo um serviço extra: salvar parte da criação. Foi aí que o intelecto divino resolveu o problema e diminuiu o esforço: ficou ele com a obra do dilúvio, e terceirizou a obra da salvação. Vale salientar que a atividade meio era a construção da arca, e a atividade fim era o dilúvio (óbvio que o dilúvio era a atividade fim: fim de tudo - ou quase!), por isso deus pode terceirizar Noé para a construção da arca.
Mas aí ainda não havia se caracterizado a terceirização de forma muito clara. Isso se desenvolveu com o tempo. Moisés também foi terceirizado quase nos mesmos termos que Noé. Tendo deus de empreender a construção de uma cidade, tinha antes de libertar os hebreus do Egito. Moisés foi terceirizado e incumbido desta obra que se caracteriza como atividade meio, posto que a atividade fim era a construção da cidade na terra prometida aos Hebreus. Sabedor da legislação vigente, deus não quis dar sopa para o azar, e impediu Moisés de entrar nas terras onde se havia de construir a cidade, justamente para que ninguém dissesse que ele (deus) estaria terceirizando também a construção e a entrega dos lotes na terra santa.
Mas pulemos os casos em que a terceirização foi usada sem estar nos moldes hoje conhecidos. Passemos para o primeiro em que ela foi feita nos moldes atuais.
Estando deus preocupado com os seres humanos, pensou na maior obra já realizada: a salvação de toda a humanidade. Precisava, então, vir ele mesmo aqui na Terra depois da grande obra da criação do universo, obra que durou longos seis dias. É óbvio que podem dizer que a obra do dilúvio foi mais longa, durando quarenta dias, entretanto, fazer chover é fichinha perto de construir um universo inteiro. Podem também objetar e dizer que um universo é mais difícil de se fazer do que salvar toda a humanidade, contudo, esquecem que o universo uma vez feito nunca mais precisou de reparo, enquanto a humanidade...ah, a humanidade!!! Tanto a obra de salvação de toda a humanidade foi a maior já pensada que foi planejada e executada em 33 anos. Vejam bem, 33 anos, não dias.
Essa obra era tão fatigante, tão dura de ser levada a cabo que deus, já afeito às terceirizaões, resolveu contratar uma empresa brasileira, a Espírito Santo S.A., para executar a obra. Deus disse o que queria e esta empresa cuidou de tudo, inclusive contratando ela mesma o funcionário, a saber, um tal Jesus. Não preciso dizer quais são os ônus da terceirização, não é mesmo? Adivinha quem fez tudo sozinho? Isso mesmo, o pobre carpinteiro contratado desde o ventre para tal obra. Foi contratado e fez tudo sozinho. Ele se dedicou por 33 anos nesta obra, e quando precisou da ajuda da empresa, a Espírito Santo S. A. virou as costas. O que pobre trabalhador fez? Pediu auxílio ao contratante da Empresa, mas não foi atendido - como ele mesmo disse, foi abandonado. Resultado? Nem aposentadoria ele teve direito por não ter completado os 35 anos de contribuição. O pobre trabalhador teve de ir até o inferno para conseguir o pequeno direito da ressurreição, mas não sem um longo processo de três dias (parece pouco, mas pense que é metade do tempo de toda a criação do universo). 
Que lição podemos tirar disso? A terceirização é um câncer que sempre acometeu o trabalhador em todas as épocas, seja ele carpinteiro divino ou apenas um de nós, reles mortais. Alguns "trabalhadores" de Cristo na Câmara estão defendendo a ampliação das terceirizações em nosso país, eis o mais engraçado. Ou lutamos contra isso ou esperaremos longos anos nos processos que correm nos tribunais do inferno, torcendo por um milagre que nos faça ganhar a causa e ter como indenização a ressurreição...


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