sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Alunos realizam reintegração de posse

Conforme últimas notícias, já são oito (hoje, dia 16/11, mais de 20) escolas ocupadas por alunos no estado de São Paulo. Estes alunos estão reivindicado o fim da reorganização (desorganização) que o governo está propondo para o ano que vem, e já que nunca ninguém os procurou para perguntar o que achavam, resolveram ocupar as escolas, fazendo, assim, a única coisa que realmente chamaria a atenção da sociedade para a arbitrariedade que estão cometendo contra eles.
Certo é que muitos olharão para estes alunos e dirão que são vândalos, que somente deveriam se importar se por acaso fosse faltar vagas ou coisa assim. Alguns mais radicais ainda dirão que deveriam apenas “estudar, o que muitos dos alunos envolvidos não fazem”, ainda que não os conheçam. Seja como for, só uma falta de sensibilidade gerará este tipo de comentário.
Estes alunos estão lutando pelo direito de permanecerem na escola que criaram laços, seja intelectuais, seja efetivo ou de amizade. Qualquer um destes motivos são justos. Nunca e em nenhum momento foram consultados para que sua opinião fosse ouvida; nem as suas e nem a de seus pais. A decisão de fechar 94 escolas em todo o estado e fazer com que outras centenas tenham sua rotina alterada foi tomada autoritariamente, de cima para baixo, com o pretexto tacanho de que seria para melhorar a qualidade de ensino. Só alguém com um alto grau de cegueira social e política para acreditar nessa desculpa esfarrapada, pois o que está implícito no discurso e explícito nas ações do atual governo é a “diminuição de gastos” com a educação. E isso não é de agora.
Em 2013, por exemplo, o mesmo governador, por meio da Secretaria Estadual da Educação, abriu concurso para a contratação de 59 mil professores em todo o Estado. Alguns mais cegos acreditaram que esta medida seria para alavancar de vez a educação em São Paulo. Contudo, esses 59 mil professores não seriam contratados como acréscimo no plantel, mas unicamente para cobrir o rombo de professores que as escolas públicas tinham.
Obviamente este concurso foi feito e, em 2014, por conta das eleições, foi usado como “prova” para o eleitorado de que o governador (candidato a reeleição) era um ser preocupado com a educação dos jovens. Ocorre que estamos já no final de 2015 e até agora não foram chamados todos os 59 mil professores. Pior que isso, ainda tentou por meio do decreto 64466 impedir que o Estado contratasse novos funcionários, ainda que estes fossem necessários e remanescentes de concursos ainda em período de vigência (incluindo professores).
Também é sabido entre professores e funcionários de escolas estaduais que desde o meio do ano passado o governo tem realizado cortes nas áreas mais básicas, deixando faltar, inclusive, produtos básicos de higiene nas escolas. Este mesmo governo que com a “reorganização” visa melhorar a Educação é o governo que mantém o sigilo das correções, provas e gabaritos do SARESP, divulgando apenas os resultados que, como é de se esperar, sempre apontam para o “ótimo desempenho das escolas paulistas”.
Este mesmo governador que agora manda a PM sitiar os alunos nas escolas ocupadas ainda este ano mandou a polícia contra os Professores que lutavam por melhores condições de trabalho e salariais. O que é pior: mandou a policia e negava a existência da greve que bateu o recorde e permaneceu por mais de 90 dias.
Não há como acreditar nessa balela de que a reorganização visa melhorar a Educação. Por mais que o senhor secretário diga em público que não há fechamento de escolas, mas sim uso destes espaços para outros fins, ainda que educacionais, estes prédios serão utilizados por entidades empresariais e comerciais visando formação de mão de obra ou serão passados às prefeituras. Seja como for, não ficará mais a cargo do Estado a manutenção do prédio nem dos funcionários, e corta-se o que o governo chama de gastos.
Por todos estes motivos, torna-se justa a tomada das escolas pelos alunos, pois somente assim suas vozes estão sendo ouvidas. Governador, Secretário da Educação, Dirigentes das DEs nem diretores de escola consultaram pais e alunos (principais interessados e tocados pela mudança) para ouvirem suas opiniões; em momento algum se levou em conta os transtornos que ocorreriam para os alunos que serão realocados; tampouco se pensou nos muitos professores que, fechadas suas sedes, terão que percorrer várias escolas para completar sua carga; enfim, não se pensou em nada mais do que dar um duro golpe na educação pública paulista, que, a título de melhoria, tem claros interesses de “diminuir gastos” e sucatear mais ainda o combalido sistema educacional público deste estado.
 Ironicamente o governador que nega a greve manda a polícia bater em professores; ironicamente o governador que não hesita em fechar escolas pede reintegração de posse de escolas cujos alunos estão ocupando. Senhor governador, o que o senhor chama de invasão e depredação de patrimônio público na verdade é justamente uma reintegração de posse que os alunos estão fazendo, tomando para si o que lhes pertence e que o senhor deles quer tirar; já o que o senhor quer chamar de reintegração de posse nada mais é do que depredação de patrimônio público e um crime contra a educação e contra estes jovens que resistem às tuas politicas tacanhas, autoritárias e truculentas. Em vez de policiais, por que o senhor não envia professores pra sitiarem as escolas?


Todo o apoio e respeito aos estudantes que bravamente ocupam e resistem aos desmandos do governo paulista!

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