sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Nunca foi tão longo...

Nunca o conceito de relatividade fez tanto sentido para mim, pois de segunda feira até hoje (sexta) o tempo passou tão rápido quão depressa desaparece o salário dos trabalhadores, entretanto, nunca o caminho da escola para casa foi tão longo. Passou um filme ante meus olhos enquanto a moto me trazia sozinha para casa. Meu ano, de fato, terminou hoje às 12:20.
É discurso batido, muitas vezes repetido, mas se me falta o dom de trazer emoção pelas palavras oralizadas e por tais emoções deixar marcado na lembrança o que falei e vivi, pretendo por meio da repetição incessante causar efeito similar. Pois bem, repito o discurso pelo motivo agora apresentado. Este ano foi extremamente difícil, permeado por grandes perdas em todos os âmbitos de minha vida. E eis, meus caros amigos/alunos e demais leitores que ainda continuam a ler tal ladainha, que conhecer meus bebês e conviver ao seu lado foi a melhor coisa que me ocorreu neste ano ruim, isso se não for a única. Portanto, se me permites, gostaria de deixar mais algumas palavras, e quem sabe tentar por meio delas pintar em tua mente um pouco das imagens que vi no caminho de volta e que em minha própria cabeça são um tanto fora de ordem.
Despedidas nunca foram o meu forte, e alguns mais conservadores dirão que homem não chora, que homem que chora não é tão homem assim. Como gosto de contestar principalmente os valores instituídos, diria que mais homem é aquele que chora, pois se a capacidade de raciocínio diferencia o homem dos demais animais, a capacidade de se emocionar também o faz, e quem chora mais humano se torna - sou humano, demasiadamente humano. Pois bem, verteram-se lágrimas hoje, inclusive de mim. Agrego aqui mais um dos discursos batidos, aquele em que sempre disse que dinheiro não é tudo, não compra tudo e nem é meu objetivo principal.
O maior fruto que tive por conta do suor do meu trabalho não foi, de forma alguma, o dinheiro que recebi, mas as alegrias que acumulei durante o tempo em que estive com meus amigos/alunos na escola, nas salas, na rua, inclusive; alegrias que se tornaram lembranças e que vieram de uma só vez em minha mente nos últimos 50 minutos de aula hoje, colocando-me num mar de sentimentos contraditórios, díspares, e que culminaram com o suor que correu de meus olhos. Diria mais: o maior fruto do suor de meu trabalho foi a quantidade de lágrimas que se fundiram ao tecido de minha camisa. Estas lágrimas advindas dos mais belos sentimentos de amizade e carinho que meus alunos me dedicam foram o maior prêmio que tive. Não há dinheiro no mundo que pague o que senti hoje quando fui efusivamente abraçado por eles.
Não se engane, tu que mal me conheces, achando que somente coisas boas aconteceram no convívio com meus alunos, mas prefiro ressaltar as boas em detrimento das ruins. Também não creia, tal como crê um ortodoxo ou um neo-pentecostal, que eu somente sou passional por conta desse texto, pois conhecem-me justamente pelo ceticismo e pretenso racionalismo. Mas creias no que juro agora: não consigo escrever uma linha deste texto sem que me ameacem as lágrimas. Perceba, pois, que se gasto tempo falando contigo que me lê e não sobre o que sinto é, antes de estilo, uma maneira de conter a pressão que as lágrimas estão exercendo sobre meus olhos, pois como os pais fazem com as filhas mais novas, nem sempre elas devem sair assim, sozinhas e a qualquer hora.
Seja como for, gostaria apenas de exaltar que detesto despedidas, pois sei da importância que os que me cercam têm em minha vida, e como estes constroem boa parte do que sou. Sabedor disso, qualquer quebra de contato com estes significa uma quebra no que sou, forçando um reconstruir de mim mesmo, fazendo-me sentir profundamente a dor do afastamento. Fui obrigado a me reconstruir no início do ano, e a base que me sustentou agora não estará mais por perto. Para ser mais exato, provavelmente eu não esteja perto desta base constituídas por estes meus amigos, meus amigos/alunos.
Acredite no que digo, leitor, que em princípio era fustigado por olhares desconfiados por parte de alunos e Professores - mais destes que daqueles - por ter maior proximidade com os alunos. De fato quebro com o esteriótipo de um Professor, talvez pela competência ainda distante de mim, talvez por acreditar que não me diferencio dos alunos senão por causa da idade e do pedaço de papel que diz que sei, mesmo sem saber se realmente sei; ou ainda por eu achar que meu compromisso maior é com os alunos, e não com meus pares. É, acho que é isso, o compromisso maior do Professor é com os alunos, não com os pares. Por falar em meus pares, ressalto que foi a melhor equipe que trabalhei, contando com excelentes profissionais, a quem também devo fração de gratidão. Mas voltemos aos alunos. Passei diversos recreios com eles jogando conversa fora ou discutindo fora da sala o que lá se iniciou. Não me arrependo em nenhum momento das tardes que fiquei para conversar e tirar dúvidas dos que lá ficavam. É óbvio que as explicações e discussões eram o plano B dos meninos, que por plano A tinham ganhar ósculos das namoradinhas que estudavam a tarde. Mas eram boas discussões.
Enfim, como havia dito, era um tanto confuso, e o relatado aqui representa fração mínima da confusão de sentimentos e lembranças que invadiram minha mente durante os 10 km da escola até minha casa.
Mas espere, tal como acontece com o raciocínio que de tão rápido que é as palavas não alcançam sua velocidade e falham ao tentar descrevê-lo e explicá-lo, devo, tardiamente, usar das palavras para falar mais um pouco, haja vista que só agora as palavras chegaram em local onde o raciocínio passou há tempos. Serei direto para não ser enfadonho, se é que já não tenha criado tal efeito no texto, e se o tenha possa diminuí-lo. Meus amigos/alunos, certamente cada tímbre, cada gesto, cada pergunta, cada face, cada briga e cada bom momento vivido convosco estão gravados em minha memória. Deixo de rotulá-los como alunos e passo a chamá-los apenas amigos. Agradeço a toda a demonstração de carinho que recebi durante todo o ano, principalmente pelas lágrimas vertidas em função de nossa despedida hoje. Saibam que tens em mim um amigo, mais que um Professor. Cada um de vós me é importante, é um aluno que deixo, um amigo que levo. Nunca os esquecerei, e tais lembranças serão levadas para o jazigo a fim de que divirtam os vermes que me roerão as carnes.
Nunca esquecerei do que me fizeram.

De teu amigo e Professor, Lucas Dario Romero y Galvaniz.






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