Numa foto que satirizava um
trabalhador parecido com Cristo (com a imagem de Jesus construída pelos
europeus), a senhorita Gaby Martins brincou dizendo que ele certamente seria
terceirizado. Aí veio a tola ideia de juntar num texto inútil a divindade e a terceirização.
Dessa junção percebi que a divindade é a precursora da terceirização no mundo.
Mas não levem a mal, posto que nada do que aqui segue é sério, embora trate de
um assunto seríssimo.
Não pretendo me estender em grandes
análises, até porque não se trata de assunto sério, mas de devaneio e falta do
que fazer. Entretanto vejamos como a divindade já terceirizou serviços na terra
em algumas ocasiões.
Tendo se arrependido de toda a
criação, resolveu deus acabar com ela. Se apiedando de uma família, resolveu
ele dar uma outra oportunidade, não sem lançar mão de obra de grande vulto, a
saber, um dilúvio. Contudo, empreender um dilúvio era obra cansativa, e ainda
mais tendo um serviço extra: salvar parte da criação. Foi aí que o intelecto
divino resolveu o problema e diminuiu o esforço: ficou ele com a obra do
dilúvio, e terceirizou a obra da salvação. Vale salientar que a atividade meio
era a construção da arca, e a atividade fim era o dilúvio (óbvio que o dilúvio
era a atividade fim: fim de tudo - ou quase!), por isso deus pode terceirizar
Noé para a construção da arca.
Mas aí ainda não havia se
caracterizado a terceirização de forma muito clara. Isso se desenvolveu com o
tempo. Moisés também foi terceirizado quase nos mesmos termos que Noé. Tendo
deus de empreender a construção de uma cidade, tinha antes de libertar os
hebreus do Egito. Moisés foi terceirizado e incumbido desta obra que se
caracteriza como atividade meio, posto que a atividade fim era a construção da
cidade na terra prometida aos Hebreus. Sabedor da legislação vigente, deus não
quis dar sopa para o azar, e impediu Moisés de entrar nas terras onde se havia
de construir a cidade, justamente para que ninguém dissesse que ele (deus)
estaria terceirizando também a construção e a entrega dos lotes na terra santa.
Mas pulemos os casos em que a
terceirização foi usada sem estar nos moldes hoje conhecidos. Passemos para o
primeiro em que ela foi feita nos moldes atuais.
Estando deus preocupado com os
seres humanos, pensou na maior obra já realizada: a salvação de toda a
humanidade. Precisava, então, vir ele mesmo aqui na Terra depois da grande obra
da criação do universo, obra que durou longos seis dias. É óbvio que podem
dizer que a obra do dilúvio foi mais longa, durando quarenta dias, entretanto, fazer
chover é fichinha perto de construir um universo inteiro. Podem também objetar
e dizer que um universo é mais difícil de se fazer do que salvar toda a
humanidade, contudo, esquecem que o universo uma vez feito nunca mais precisou
de reparo, enquanto a humanidade...ah, a humanidade!!! Tanto a obra de
salvação de toda a humanidade foi a maior já pensada que foi planejada e
executada em 33 anos. Vejam bem, 33 anos, não dias.
Essa obra era tão fatigante, tão
dura de ser levada a cabo que deus, já afeito às terceirizaões, resolveu
contratar uma empresa brasileira, a Espírito Santo S.A., para executar a obra.
Deus disse o que queria e esta empresa cuidou de tudo, inclusive contratando
ela mesma o funcionário, a saber, um tal Jesus. Não preciso dizer quais são os
ônus da terceirização, não é mesmo? Adivinha quem fez tudo sozinho? Isso mesmo,
o pobre carpinteiro contratado desde o ventre para tal obra. Foi contratado e
fez tudo sozinho. Ele se dedicou por 33 anos nesta obra, e quando precisou da
ajuda da empresa, a Espírito Santo S. A. virou as costas. O que pobre
trabalhador fez? Pediu auxílio ao contratante da Empresa, mas não foi atendido
- como ele mesmo disse, foi abandonado. Resultado? Nem aposentadoria ele teve
direito por não ter completado os 35 anos de contribuição. O pobre trabalhador
teve de ir até o inferno para conseguir o pequeno direito da ressurreição, mas
não sem um longo processo de três dias (parece pouco, mas pense que é metade do
tempo de toda a criação do universo).
Que lição podemos tirar disso? A
terceirização é um câncer que sempre acometeu o trabalhador em todas as épocas,
seja ele carpinteiro divino ou apenas um de nós, reles mortais. Alguns
"trabalhadores" de Cristo na Câmara estão defendendo a ampliação das
terceirizações em nosso país, eis o mais engraçado. Ou lutamos contra isso ou
esperaremos longos anos nos processos que correm nos tribunais do inferno,
torcendo por um milagre que nos faça ganhar a causa e ter como indenização a
ressurreição...