Numa discussão sobre o fechamento de escolas no estado de
São Paulo houve quem dissesse que não se importava muito com tal fato, posto
que seria melhor que isso ocorresse do que se instalasse escolas
"doutrinadoras".
Sendo assim, farei este pequeno ensaio para discutir tal
assertiva de um dos arautos da sapiência, bastião da verdade.
A escola no Brasil (e no mundo), e em especial no Estado de
SP, sempre foi e ainda é “doutrinadora” sim. Para atestarmos isso basta olharmos
para sua história, desde aquilo que seria sua gênese: a catequese. A catequese
visava e visa até hoje formar cristãos entre as crianças, ensinando-as desde
cedo a sua doutrina.
Mas beleza, vamos falar do profano, deixando o “sagrado” em
paz, e voltar os olhos para fora do Brasil e longe de nossos tempos.
Após a Revolução Francesa, quando caiu o Antigo Regime, uma
das primeiras ações pensadas pelos novos líderes foi a criação de escolas
publicas onde se tivesse, entre outras coisas, o ensino de História. Com isso
objetivava-se ensinar as crianças sobre os ideais iluministas e republicanos,
garantindo o futuro do regime e a vitória da Revolução.
Situação parecida tivemos durante a ditadura militar no
Brasil, quando o regime suprimiu do curriculum escolar matérias como História,
Geografia, Sociologia e Filosofia, instituindo outras como Educação Moral e
Cívica e as famosas OSPB (Ordem Social e Política Brasileira) e Estudos Sociais
(onde se aprendia o hino e as datas "históricas), numa clara tentativa de impedir que determinados
conhecimentos fossem transmitidos e que a ordem implantada a força não fosse
contestada.
Seja pelo conteúdo proposto ou suprimido, seja por
discussões feitas ou sumariamente impedidas de acontecer, sempre e em todos os
tempos a educação ministrada atendia a propósitos muitas vezes inconfessáveis.
Como diria Paulo Freire, “a educação é ideológica”.
Existe, entretanto, um grupo de pessoas que justamente por
ter estudado nas escolas públicas paulistas afirma veementemente que partido A
ou B está tentando doutrinar as crianças, como se a educação de hoje (ou de um
passado recente) fosse isenta de ideologias, fosse um espaço neutro e as
crianças de lá saíssem incólumes. Este tipo de ideia é prova cabal de que neste
estado a educação é ideológica e atende a interesses tacanhos. As pessoas que
sustentam essa posição equivocada são as mesmas que têm aversão aos livros, que
defenestram Paulo Freire sem nunca sequer ter lido uma de suas obras, que
desconhecem o processo histórico do próprio país, que não têm pensamento
reflexivo (mas que são ótimas em decorar e repetir frases prontas), que não
abstraem, e por isso mesmo não se dão conta de que sua condição é fruto
justamente do projeto politico, cultural, econômico e social que estas escolas
cumprem.
Sinto dizer, meus caros, mas vocês são prova de que a
escola pública que o estado de São Paulo oferece é sim doutrinadora, e sua doutrina
é a universalização da ignorância.