Ontem, no jornal Noticidade (SBT), o apresentador
contou com a presença do futuro presidente da Câmara Municipal de Ribeirão
Preto, Walter Gomes, para prestar esclarecimentos e apontar quais os grandes
desafios que o mesmo acreditava encontrar em sua nova função. Obviamente que as
manifestações ocorridas durante todo o ano foram pauta, e a respeito dessas
manifestações é que as questões mais polêmicas foram suscitadas.
O senhor Walter Gomes, que há muitos anos se faz
presente na Câmara Municipal - se reelegendo por meio de um curral eleitoral
cujas cercas delimitadoras são as grades em volta dos campos de futebol - afirmou
que a partir de sua gestão os cidadãos terão suas bolsas revistadas para terem
acesso ao plenário. Da mesma forma, afirmou categoricamente que indivíduos “mascarados”
não irão ter acesso ao local. Segundo o futuro presidente da Câmara, todas
estas medidas seriam necessárias para garantir a integridade física dos
vereadores, para impedir que a violência tomasse conta das sessões.
Contudo, qual seria o medo que permeia os
pensamentos dos vereadores e que culminou com esta ação arbitrária do próximo
presidente da casa legislativa?
Provavelmente o medo que os acomete gira em torno de
uma articulação da sociedade civil que, cansada da conduta coronelesca de
grande parte de seus representantes políticos, resolveu tomar uma atitude
renovadora, que tomou grande força com o “não reeleja” e culminou com o
cancelamento da sessão da Câmara semana passada. Esta postura da sociedade, se
não põe fim aos desmandos destes senhores, dificulta-lhes a ação, o que lhes
causa grandes constrangimentos entre si em suas obscuridades praticadas no
submundo político de Ribeirão Preto.
O senhor Walter Gomes, ao citar os ovos e o sinalizador
atirados contra o então presidente da Câmara, Cícero Gomes, afirmou que se o
mesmo indivíduo – patrimônio tombado da casa – tivesse sido atingido,
certamente estaria com problemas em sua saúde. Sendo assim, a ação coercitiva (revista)
contra os cidadãos que assistem às sessões seriam justificadas, pois além de
garantir a integridade dos vereadores, impediria que os “vândalos” depredassem
o patrimônio público.
Oras, isso só pode se tratar de uma piada, senhor
vereador! Já ouvi falar que ingerir ovo em excesso pode causar o aumento do
colesterol, mas nunca que uma ovada pudesse causar algum tipo de doença (Mário
Covas que o diga). Se assim o fosse, muitas crianças certamente morreriam nas
filas dos postos de saúde (área também sucateada) de nossa cidade nos dias de
seus aniversários, onde muitas levam um número excessivo de ovadas de seus
amigos. Tampouco creio, vereador, que os sinalizadores possam causar algum tipo
de dano maior que as balas de borracha e spray de pimenta que portavam os
policiais postados por vossas senhorias na Câmara e que estavam prontos para
reprimir os verdadeiros donos da Casa: o povo. Um ovo ou um sinalizador lançados
contra um político nunca serão causa de doença, tal como pretendes, vereador,
mas sim efeito de doenças crônicas que acometem a cidade de Ribeirão Preto: a “corruptose
aguda”, a “ineficiênciatíase”, a “coronelite”, a “interessiti particulariosi”
que corrói a máquina pública, entre outras doenças.
Tampouco creio, vereador, que qualquer coisa
quebrada dentro da Câmara Municipal (o que não me recordo ter acontecido) custe
mais caro aos cofres públicos do que o aumento salarial que os senhores mesmos
se concederam há pouco tempo. Tampouco custariam mais caro que os salários exorbitantes
pagos pelo executivo para custear os cargos de confiança e que os senhores
(maioria governista) não fazem questão de questionar a verdadeira necessidade.
Tenho por certo que maior depredação ao patrimônio
público ocorre quando usais do poder que lhes foi concedido pelo povo para agir
contra o próprio povo, como nessas situações citadas. Um outro exemplo de como
se depreda patrimônio público foi dado com vossa intenção de aprovar o
inconstitucional e imoral projeto de lei que visava a prorrogação dos contratos
dos professores emergenciais. Vós estais a depredar o maior patrimônio que a
cidade tem, e cujo valor não se mede em cifras: as crianças e adolescentes de
Ribeirão Preto. Ao negar-lhes o direito à educação de qualidade estais
comprometendo o futuro destas mesmas crianças, e certamente garantindo as vossas
continuidades na Câmara, pois são estes que vão jogar os campeonatos de futebol
nas periferias da cidade, são os mesmos que dependerão de cestas básicas para
sobreviver, não é mesmo, senhor vereador?
No dia de sua eleição como presidente da Câmara,
senhor vereador, recordastes mais uma vez das dificuldades que tivestes de
enfrentar para chegar a tal posição. É uma bela história de superação. Contudo,
o que tens feito com o cargo que lhe foi confiado por aqueles que sofrem tanto
ou mais do que sofrestes? Tua história de superação parece servir apenas como
meio de comover aos que te escutam, e não para garantir que a situação dos menos
afortunados melhore. Em vez de fiscalizar os desmandos do executivo, uniu-se à
prefeita, e estás ajudando na falência da cidade. Saindo de onde saiu e
chegando a onde estás, deverias lutar para a que a população tivesse melhores
condições, mas pelo visto queres continuar na posição que se encontra. Isto explica
o porquê de dificultar que os cidadãos entrem na casa que é deles.
Como afirmou Leonardo Sacramento em uma entrevista “A
Câmara não é um patrimônio dos vereadores”, senhor futuro presidente, mas um
patrimônio da população que vossas senhorias estão depredando com conduta tão
vil. Os vereadores que colocam o interesse particular ou de um grupo acima do interesse público é que deveriam ser revistados pelo Ministério Público e impedidos de entrar na Câmara. A pior máscara não é aquela artificial que é colocada, mas a natural que está sendo usada por muitos dos vereadores, e que enganam muito mais.